Relâmpago: Revista em Casa por R$ 9,90
Imagem Blog

Tela Plana 2cj18

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming

Guerreiros do Sol e mais: cangaço renasce no streaming com olhar feminino 503947

Novo folhetim do Globoplay reforça uma safra de produções do tema 6g561i

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 jun 2025, 08h00

Durante um tiroteio intenso entre o bando de cangaceiros liderado por Josué (Thomas Aquino) e o fazendeiro Idálio (Daniel de Oliveira) e seus capangas, Rosa (Isadora Cruz) pega um revólver e mata o enteado a sangue-frio, dando início à própria jornada como uma pistoleira que a a ser procurada pela polícia junto com o grupo. O motivo que levou a protagonista de Guerreiros do Sol a cometer o assassinato ainda será revelado ao público ao longo dos 45 capítulos da novela que revisita o cangaço pela perspectiva da anti-heroína inspirada em Maria Bonita (1911-1938), esposa de Lampião (1898-1938). O lançamento que acaba de chegar ao Globoplay reforça uma tendência notável: as produções sobre o cangaço voltaram à ordem do dia com o streaming — e sob nova roupagem. Além de resgatar o rastro trágico de violência desses bandidos sertanejos romantizados com sucesso no cinema e na televisão nas últimas décadas, Guerreiros do Sol e séries como Maria e o Cangaço, do Disney+, e Cangaço Novo, do Prime Video, trazem um diferencial extra ao investigar esse universo por um prisma mais feminino e humanizado.

CABRAS - Miguel (Nero) e Josué (Aquino): novo retrato de figuras complexas
CABRAS - Miguel (Nero) e Josué (Aquino): novo retrato de figuras complexas (Estevam Avellar/TV Globo)

No ado, é fato, outras obras também iluminaram a bravura das mulheres naquele ambiente sumamente masculino. É o caso do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, que tinha sua própria Rosa (Yoná Magalhães), esposa submissa de um jagunço que se revela resiliente. Também marcou época o documentário A Mulher no Cangaço (1976), que trazia a realidade de algumas figuras femininas que integraram o bando de Lampião — com a mítica Maria Bonita, esposa dele, em primeiríssimo plano, claro. A nova leva de produções avança algumas casas no retrato da mulher do cangaço: mais que mostrar a capacidade delas de andar lado a lado com homens violentos, transportam-nas agora de meras coadjuvantes a protagonistas — e os dramas da condição feminina ganham realce em cena.

Centralizada na célebre esposa de Lampião, Maria e o Cangaço confere uma aura de empoderamento típica dos dias de hoje à personagem histórica real do começo do século XX. Há um tanto de anacronismo em falar de feminismo num mundo de machismo feroz como aquele, obviamente, mas a protagonista vivida por Isis Valverde até convence: ela é uma líder disposta a defender outras mulheres de abuso e ainda se descobre grávida do cangaceiro (vivido por Julio Andrade), contrapondo a imagem da “mulher-macho”, destemida e com gana de justiceira, à da mãe devotada a proteger sua prole. As nuances de gênero também dão colorido a Cangaço Novo, que transpõe o tema para o Nordeste contemporâneo, falando de pistoleiros que ainda causam terror no sertão na atualidade. A bandida Dinorah (Alice Carvalho) sofre para ser levada a sério em sua quadrilha, mostrando como até hoje a mulher precisa ralar muito para conseguir se impor em meio a uma cambada de marmanjos folgados. Lançada em 2023, a série foi uma das produções mais vistas do Prime Video não só no Brasil, mas em outros cinquenta países, segundo o site FlixPatrol.

HERANÇA - Alice Carvalho (à dir.) em Cangaço Novo: visões de Maria Bonita
HERANÇA - Alice Carvalho (à dir.) em Cangaço Novo: visões de Maria Bonita (Prime Video Brazil/Divulgação)
Continua após a publicidade

Da literatura às telas, o cangaço sempre teve apelo popular por ser um equivalente brasileiro, digamos, do faroeste americano: um filão que seduz ao mesclar ação com dramas morais e familiares épicos. Apesar de esses grupos serem famosos na vida real sertaneja por roubos, assassinatos e estupros, também eram vistos como resistência ao coronelismo de latifundiários que aumentavam suas riquezas explorando os mais pobres. Vem desse paradoxo a complexidade de figuras como Lampião e Maria Bonita, vistos como criminosos por uns, mas como heróis por outros. “O cangaço expõe as contradições do Brasil não só da década de 1920 e 1930 como o de hoje também. Por isso ainda causa fascínio no público”, explica George Moura, criador da nova aposta do Globoplay e do canal Globoplay Novelas (antigo Viva), ao lado de Sergio Goldenberg.

NADA FRÁGIL - Isis Valverde como a mulher de Lampião: bandida empoderada
NADA FRÁGIL – Isis Valverde como a mulher de Lampião: bandida empoderada (//Divulgação)

Em sua encarnação na era do streaming, o gênero ganha um teor mais adulto: as novas séries proporcionam uma liberdade criativa maior, além de ousar bastante nas cenas de nudez e violência gráfica — e até mesmo explorar o romance entre mulheres, como o que será visto entre Otília (Alice Carvalho) e Jânia (Alinne Morais) em Guerreiros do Sol. Se a novela Cordel Encantado (2011), outra investida da Globo no gênero, pintava um retrato pueril do cangaço por meio de uma história de amor açucarada, o novo folhetim tempera sua trama brutal com toques de melodrama para amolecer o coração do público. No começo da novela, Rosa se mostra uma jovem prática. Mesmo apaixonada por Josué, a mocinha opta por se casar com o coronel Elói (José de Abreu), homem mais velho que pode lhe garantir segurança financeira — o que lhe parece melhor do que se envolver com o então aspirante a cangaceiro que só busca vingar a morte de seu pai, em uma emboscada armada pelo coronel. Ao longo da história, porém, Rosa se vê forçada a uma guinada dramática. “Ela é dona de si”, disse sua intérprete, Isadora Cruz, a VEJA (leia abaixo). Em alta na Globo, a atriz paraibana demonstra em Guerreiros do Sol como a representação das mulheres no cangaço evoluiu muito. Lampião que nos desculpe, mas são elas agora que fazem a história.

Continua após a publicidade

“Sempre quis viver maria bonita” 28h68

A atriz Isadora Cruz, paraibana de 27 anos, fala sobre sua personagem na novela Guerreiros do Sol.

AMOR BANDIDO - Rosa e Josué: par romântico em meio ao cangaço
AMOR BANDIDO - Rosa e Josué: par romântico em meio ao cangaço (Estevam Avellar/TV Globo)

O que mais a atraiu ao papel de Rosa? Como uma mulher nordestina, sempre cresci com esse sonho de viver uma Maria Bonita.

Continua após a publicidade

Por quê? É um papel muito icônico e que representa boa parte de mulheres sertanejas, batalhadoras, guerreiras que lutam pela própria liberdade. E a Rosa é forte, independente, dona de si.

A novela traz uma perspectiva feminina do cangaço. Por que isso é importante? Quando se pensa numa história sobre cangaço, a primeira imagem que vem à cabeça é a dos bandos de homens. Acho que Guerreiros é um sinal positivo dos novos tempos, da necessidade de dar um novo olhar sobre as coisas.

Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948

Publicidade

Matéria exclusiva para s. Faça seu

Este usuário não possui direito de o neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única digital

Digital Completo k6g28

o ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo 5w3y5n

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 32,90/mês

*o ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.