Liderada pelo clã Bolsonaro, aliança da direita antecipa articulações eleitorais no Rio 3g5x3p
A direita fluminense se uniu em torno de Rodrigo Bacellar, que tentará desafiar o favoritismo de Eduardo Paes ao governo em 2026 5r1jv

A pouco mais de um ano do início da campanha eleitoral de 2026, as peças parecem deslizar com cautela sobre o tabuleiro de xadrez no qual a disputa vai se desenrolar. Movimentos mais bruscos são evitados enquanto o destino de Jair Bolsonaro, figura central em qualquer cenário, segue indefinido. A exceção se dá justamente no berço político do ex-presidente, o Rio de Janeiro, onde as articulações para o pleito estadual caminham a pleno vapor. O quadro foi antecipado em razão de uma particularidade que anda atormentando as fileiras à direita: nesse que é um dos maiores colégios eleitorais do país, um aliado de primeira ordem do presidente Lula vem liderando a corrida com folga, segundo as últimas aferições.
O prefeito carioca Eduardo Paes (PSD) tem 57% das intenções de voto, de acordo com levantamento do instituto Paraná Pesquisas. E ele, assim como o PT, aposta em mais. “Só no Rio podemos ampliar a votação do Lula de forma relevante”, avalia Washington Quaquá, prefeito de Maricá e vice-presidente do partido, com um olho no duelo para o governo e outro na corrida ao Palácio do Planalto. “Em São Paulo e Minas, a situação é bem mais consolidada e favorável à oposição”, diz.

Tudo indica que será uma batalha daquelas, com direito a muita polarização, e por isso a direita viu-se obrigada a se mexer para se unir em torno de um único candidato. Em meio a interesses díspares, emergiu o nome do todo-poderoso presidente da Assembleia Legislativa fluminense (Alerj), Rodrigo Bacellar, do União Brasil, hoje no patamar de uns 10% nas preferências. A desvantagem, apostam seus agora apoiadores, incluindo aí o clã Bolsonaro, pode ser estreitada com um empurrão de poderosos aliados, como o governador Cláudio Castro (PL). O ocupante do Palácio Guanabara já teceu suas costuras para acomodar seu vice, Thiago Pampolha (MDB), no cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, tirando-o do futuro páreo, e agora, de férias com a família, cedeu a caneta a Bacellar durante o período em que estará fora. Nos próximos dias, o interino pretende se lançar em um périplo firmando alianças pelo interior do estado, o calcanhar de aquiles de Paes, e distribuir verbas às prefeituras. “Toda agenda importante do governo hoje é calculada e a pelo presidente da Alerj. Castro e Bacellar se falam todo dia”, conta um aliado do núcleo duro do Guanabara.
Nada no jogo político fluminense ocorre, porém, sem combinar com os Bolsonaro, sobretudo com Jair — e Bacellar está bem ciente dos códigos locais. No Carnaval, encontrou-se com o ex-presidente em Angra dos Reis, seu reduto praiano. Mais recentemente, foi o capitão que ligou e apresentou suas condições para uma aliança: “O vice é meu”, esclareceu, sem rodeios. Exigência aceita. Até o momento, um dos nomes à mesa é o do empresário Renato Araújo, do PL, amigo pessoal do ex-presidente que disputou (e perdeu) a prefeitura do balneário encravado na Costa Verde. Mas a exigência não é tão simples assim. No amplo arco de direita posto de pé para brigar com Paes, o PL já conta com as duas vagas para candidaturas ao Senado. A primeira, não há dúvida, caberá a Flávio Bolsonaro, cuja vitória é tida como quase certa, e a segunda será do próprio Castro, que sonha em saltar para a arena nacional. A solução para o ime, palpita um integrante do séquito bolsonarista, seria a indicação de alguém de confiança fora do PL. “O essencial é o grupo estar junto para não permitir que o Rio se torne um quartel-general do PT, como Lula quer”, disse Flávio a VEJA.

Do outro lado da trincheira, Paes se esforça justamente para escapar do rótulo de candidato da esquerda, o que acaba por estreitar sua via eleitoral. O prefeito não se cansa de repetir nos bastidores que é aliado de Lula, sim, mas não do PT fluminense. Ele não disfarça a irritação com correligionários do presidente que, embora integrantes da base aliada na istração municipal, não se acanham em comportar-se como oposição. Em suas conversas aqui e ali, ainda preliminares frente à vasta vantagem que o deixa em posição confortável, o alcaide busca ampliar o perfil de seu eleitorado, majoritariamente concentrado na capital. A palavra de ordem entre seus apoiadores é quebrar a hegemonia do leque à direita nos demais 91 municípios, onde a imensa maioria foi de Bolsonaro no pleito presidencial de 2022. O deputado Pedro Paulo, presidente estadual do PSD e fiel escudeiro de Paes, tenta a todo custo romper a resistência dos prefeitos e ou a cortejar nomes que até outro dia estavam no campo oposto do ringue.
A situação no Rio tem ainda potencial para transbordar para o pleito nacional. É que uma ala do PT, capitaneada por Quaquá, anda semeando a ideia e movendo peças para tentar atrair o PSD de Gilberto Kassab para a chapa lulista — cenário em que Paes poderia até ocupar o posto de vice, segundo o próprio Lula já fez ventilar. A iniciativa, por ora, não deslanchou, mas já alimenta animadas conversas de bastidor. Bacellar, por sua vez, trabalha duro para atrair outras siglas do centrão, como o MDB e o Republicanos. Em fevereiro, foi reeleito para comandar o Legislativo estadual por unanimidade, contando com votos de todos os naipes ideológicos, até do PSOL. Bom de aliança, o candidato da direita já mostrou que é. Resta saber se será também bom de urna.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948